ESPAÇO LITERÁRIO

Neste espaço encontrarás:

- Contos;
- Textos produzidos por alunos e professores;
- Artigos de opinião;
- Tudo o que esteja relacionado com a escrita;

Sunday, May 4, 2008

Sim a mais associativismo!

És jovem, desocupado, cheio de ideias, espírito aberto e possuidor de algum talento … Porque não contribuir?
Faz falta, na nossa escola, jovens com vontade de mobilizar…
De seguida proponho-te duas áreas que, na minha opinião, poderiam ser úteis para todos nós.

Biblioteca da escola: Um espaço culturalmente rico, com livros, revistas e computadores é um desperdício encontrar-se fechada durante os intervalos. Seria bastante enriquecedor para os alunos e os professores poderem estar na companhia destes meios logo após o toque da saída. Já imaginas-te como seria bom ler os destaques da manhã na biblioteca da escola? E aquele livro que ainda se encontra a meio mas que só o podes ler nos teus intervalos? Então, porque não mobilizas os teus amigos para teres a biblioteca da escola sempre aberta?

Festas: A última festa que me recordo deste ano foi a do “Dia da Escola”, para dizer a verdade, além de pouco ou nada se ter realizado mais durante este ano, o dia em si não foi nada de especial… Porque é que não temos um carnaval animado na nossa escola? Seria bastante interessante existirem concursos de canto, dança, pintura e jogos tradicionais. Será que tu estás vocacionado para esta área, então, porque não mobilizar os teus amigos para um maior dinamismo e espírito de festividade dentro da nossa escola?

Estes são alguns exemplo, mas … a tua imaginação tem alcance para MUITO MAIS!! Acredita no teu espírito criativo e mobiliza a comunidade educativa!!!

Wednesday, January 23, 2008

HALLOWEEN EM NOVA IORQUE

Final de Outubro em Nova Iorque: as folhas amarelas e douradas que acentuam o castanho do ambiente da cidade, que enchem a vista nos jardins e atapetam as ruas. Um friozinho que me faz apertar o casaco e entrar naquele confortável barzinho de Donuts em Times Square. Enquanto tomo o chocolate quente e como os irresistíveis Donuts, vou lendo o meu C. S. Lewis: “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”. Não é bem o ambiente para se ler C. S. Lewis, eu sei. Mas, à falta dos vetustos muros de Oxford, Manhattan é um bom substituto. Aliás, Manhattan é o ambiente ideal para tudo nesta vida!Encosto-me à montra e olho o exterior, no violeta do crepúsculo que se esbate, nas feéricas luzes que se acendem e dão à zona a sua (merecida) fama. Passam crianças vestidas de bruxas, de fantasmas, de diabinhos à solta: estou a viver o Halloween em Nova Iorque! Nunca imaginei!Uma certa modorra apodera-se de mim, no contraste do calor da casa com o frio do vidro. Fico apenas a observar os transeuntes e os letreiros luminosos acrescentados de abóboras e de bruxas.Saio. Repentinamente, tudo está muito mais frio. Começo até a ver cair uns farrapos que pressagiam neve. Tão cedo? Interrogo-me, pouco habituada a estas latitudes.Apanho o metro até Central Park, onde fica o hotelzinho onde me hospedo. Ao sair do metro, o espanto: um manto branco caiu sobre a cidade! O parque está praticamente deserto, todos fugiram do frio inesperado e da neve extemporânea. Sento-me num canto ao abrigo da neve, pasmada com o acontecimento. No meu país, tal não seria possível! De repente, tudo me parece mais triste, muito triste. Não há a alegria da neve que sempre vi nos cartões de Natal da minha infância. Algumas pessoas passam por mim a correr, como que fugindo de algum poder maléfico que se tivesse apoderado da cidade.De repente, ouço vozes: mais gente passa por mim, procurando refúgio de algo que não identifico. “What’s going on?” pergunto. “The White Witch”, parece-me ser a resposta. “Feiticeira branca? Quem é a Feiticeira Branca?” “Nunca leste C. S. Lewis?”, perguntam-me ironicamente.Faz-se luz no meu espírito! Como é que saltei para as páginas do livro que lia? Ou será apenas um sonho? Já compreendo o frio, a neve, a tristeza: vim cair no triste reino da Feiticeira Branca!Encolho-me no meu canto e acabo por adormecer de desesperança ou de hipotermia, não sei.Quando acordo, vejo com surpresa que a neve começou a derreter. É já manhã e há pássaros que saltitam alegres no relvado que surge. Os seus gorjeios enchem-me os ouvidos.De súbito, um rugido! É isso! O Leão! Aslan também tem que entrar nesta história!A um grupo de crianças que passam para a escola, pergunto: “Meninos! Que aconteceu? O Leão matou a Feiticeira?”“Não!”, responde um deles, sorrindo. “Foi a Feiticeira que matou o Leão, mas Aslan voltou! Está vivo! Está vivo!”Levanto-me e junto-me ao grupo, que canta, ri e salta o tempo todo. Sinto-me criança de novo com eles.Mas… e Aslan? Onde está o Leão que apenas ouço rugir? Tenho que o ver!Embrenho-me em Central Park, que ainda não tive oportunidade de conhecer bem. Sigo apenas o som do rugido. É assim que entro numa zona de arbustos mais densos, deixando de ver os contornos dos arranha-céus em volta do parque. Parece-me estar perto, porque o som torna-se mais audível.Que é isto? Penso de mim para mim, quando os arbustos se tornam mais macios e, a pouco e pouco, se transformam em roupa, em casacos, os meus casacos! Estou dentro do meu próprio roupeiro!E, de repente, saio no meu quarto, muito longe de Central Park e de Nova Iorque, forçada a regressar à minha rotina do dia-a-dia.Ná! Não posso nunca contar isto a ninguém. Chamar-me-iam louca.Estranhamente, num bolso do meu casaco, venho a encontrar uma embalagem vazia de Donuts…
Eunice CavacoAmadora, 29 de Outubro de 2007
Este conto, escrito pela Professora Eunice Cavaco, esteve exposto, na Biblioteca da Escola, durante a semana dedicada ao Halloween.

O Espectro no Quadro Interactivo

-Agora, podem observar uma imagem do nosso planeta captada por um dos satélites mais espectaculares… -começou a professora de História e Geografia, tocando num botão que fez aparecer o diapositivo no quadro.Os alunos agitaram-se: era a primeira vez que viam usar o quadro interactivo. Por sorte, chovia copiosamente e não havia reflexos inconvenientes na tela. Anoitecia cedo em Novembro, pouco passava das cinco e meia. O barulho da chuva no telheiro do pátio criava uma sensação de desconforto, o que levou os alunos a cruzar os braços sobre o peito.A professora pediu a uma aluna que se levantasse e identificasse os continentes e alguns países. A Marta tinha acabado de situar a Austrália quando, de repente, sobressaltada, gritou.-O que foi, menina? É preciso gritar assim? O que foi?-Setôra, olhe! Olhem todos! – apontou uma cara que surgia como se fosse um estereograma no meio do Pacífico.A turma inteira gritou e saltou das cadeiras. Incrédula, a professora ainda perguntou: “Quem foi o engraçadinho que fez isto? Quem colocou esta imagem no computador?”Perante a incontrolável agitação da turma, observou melhor a cara que se estava a animar. Apesar da superfície do quadro ser plana, a imagem era tridimensional, conferindo_ -lhe uma profundidade estranha, como se fosse um espelho ou um lago.As colunas de som começaram a fazer um ruído insuportável, provocado por interferências. Soou um trovão, relampejou e a luz da sala apagou-se, ficando, porém, o quadro interactivo ligado. A cara continuou animada. Nesse momento, notaram que o penteado também se via- era uma mulher que os olhava ligeiramente de lado, com os lábios friamente apertados e uma atitude arrogante.-Quem é essa?- perguntou o delegado de turma, mas ninguém lhe respondeu. Estavam todos em estado de choque. Ficaram ali alguns minutos sem saber o que fazer ou para onde ir, até que a corrente eléctrica foi restabelecida e o computador reiniciou após um bip.Nunca a sala de professores pareceu tão distante à professora Joana Arco.-Não imaginam o que me aconteceu…- desabafou tremendo junto dos colegas.Um colega simpático deu-lhe uma chávena de chá de tília que ela bebeu, enquanto contava o sucedido, até que se imobilizou, afastando a chávena para poder olhar para o conteúdo. Lá estava ela no fundo da chávena- a mesma cara.-Desculpem, não me sinto bem – balbuciou e correu para a casa de banho, onde passou o rosto por água fria, mas, ao levantar a cabeça, viu-a outra vez no espelho, aquela cabeça sem corpo nem alma. Tinha febre certamente! Pôs a mão sobre a testa. Não lhe parecia. Tinha de descansar. Voltaria para casa naquele preciso instante. Voou até à sala de professores para ir buscar a sua pasta, deixando indignados os colegas que a teriam de substituir no tempo lectivo que se seguia. Entrou no carro, deu à chave, ligou as luzes e, no vidro do pára-brisas, surgiu de novo o espectro.A professora Joana Arco encontra-se internada no serviço 10, cama 30 do Hospital Júlio de Matos com o olhar fixo numa imperfeição do estuque do tecto.O quadro interactivo voltou a ser utilizado, desta vez pelo professor José Bandarra. Consta que, no espaço de um ângulo recto, surgiu uma cara, embora não tenha sido redigida nenhuma participação, nem lavrada nenhuma acta sobre o caso.
Oui C’est Moi*/2007

Conto escrito pela Professora Filomena Silva, sob Pseudónimo, exposto na Biblioteca da Escola, durante a semana dedicada ao Halloween.

A "VERGONHA"

Liga-se a televisão, sintoniza-se um canal português (seja ele qual for) e, à primeira entrevista de rua do noticiário, seja ela sobre que assunto for, o comentário que brota da boca do/a entrevistado/a é, invariavelmente, “Isto é uma vergonha!”.
Tudo se revela como uma vergonha: a Educação é uma vergonha; a Saúde é uma vergonha; as estradas são uma vergonha; as greves são uma vergonha; a chuva é uma vergonha; a seca é uma vergonha. Tudo, mas mesmo tudo, é susceptível de ser uma vergonha!
Podemos assim considerar que vivemos num país envergonhado, constituído por cidadãos envergonhados, banhado não pelo Atlântico, mas por um enorme oceano de vergonha. Vergonha essa que parece sempre inibidora de qualquer acção. Sim, porque os cidadãos não se sentem revoltados: sentem-se envergonhados! Não se sentem capazes de desenvolver uma acção que seja para acabar com esse estado de coisas, pois sentem-se diariamente envergonhados. Manietados por essa mesma vergonha!
Gritam e reclamam alto e em bom som nas televisões, nas rádios, nas famigeradas “bichas” dos autocarros nas repartições públicas e nos cafés. Em poucas palavras, em todos os locais onde se encontram outros “envergonhados” como eles e onde sabem, igualmente, que a sua voz só será ouvida pelos mesmos.
“Isto é uma vergonha!”
Mas afinal, porque é que “isto” é uma vergonha? “Isto” é algo provocado por um “eles” (entidade enigmática, parente do não menos enigmático “sistema”) que o cidadão envergonhado acusa de ser o responsável pelos males do mundo, que não tem rosto, nem voz. Ainda assim, os seus acólitos são prontamente apontados e identificados: chamam-se “governo”, “ministro”, “presidente” (do que quer que seja), “grevista”, “motorista do autocarro”, “funcionário público”, “polícia”, “emigrante”, “Comunidade Europeia”, “professor” e outros e outros e outros, dependendo apenas da situação causadora da “vergonha”.
“Isto” é então algo que não pode ser mudado! “Isto” faz parte do “destino” (parente mais velho e talvez progenitor do “sistema” e do “eles”)! É o “fado” (outro)! Isto já vem desde o princípio dos tempos! Se “isto” acabasse, que justificação teríamos para nos sentirmos envergonhados?
A ordem das coisas seria subvertida!
Horror!


Este artigo foi redigido pelo Professor Paulo de Lemos.
O nosso muito obrigado pela sua participação!